Promulgada no ano de 1513 do Tempo Comum, a Lei do Degredo foi uma das medidas mais controversas da história do Império Brasiliano. Criada inicialmente para punir os orcades pela Grande Traição, a lei rapidamente se expandiu para atingir outras raças e indivíduos que, de alguma forma, ameaçavam a estabilidade do Império.
Em 1508, com o fim da Guerra da Traição e a expulsão definitiva dos orcades do continente, os Altos Elfos assumiram uma posição de destaque dentro da nova Coalizão, a organização política formada pelas raças mais atuantes durante os conflitos. O continente é rebatizado como Terra Brasilis e o Império Brasiliano torna-se uma entidade reconhecida em todo o mundo.
Na ocasião, o Alto Elfo Caedhro Tardhasi foi nomeado Imperador Interino, até que uma forma de eleição justa fosse desenvolvida e aceita pelos líderes de todos os povos.
E a primeira ordem de Caedhro foi a execução sumária de todos os orcades mantidos como prisioneiros. Em seguida, ele fechou os portos para orcades de outros continentes e proibiu a permanência de qualquer membro desta raça nas terras do Império. Estas atitudes marcaram o surgimento dos primeiros conflitos ideológicos entre os elfos e os curupiras, que consideram essas medidas tão cruéis quanto a própria traição dos orcades.
Nos anos seguintes, clima de tensão e desconfiança entre as raças continuou a crescer na mesma velocidade em que o Império se transformava em uma potência indestrutível. E um novo foco de conflitos surgiu em 1513, quando Caedhro anunciou a Lei do Degredo.

Segundo a declaração oficial, o objetivo da lei era preventivo, a fim de purgar o Império Brasiliano de elementos considerados perigosos ou indignos. Mas o ponto central era que o Degredo não afetava apenas um indivíduo, mas toda uma raça.
Os orcades foram os primeiros a serem submetidos à lei, ainda que houvesse poucos deles vivendo no continente, naquele momento. Mas logo a lei se estendeu para os gorgons, uma vez que havia relatos de que alguns deles haviam se aliado aos orcades na Guerra da Traição, e para os naghars, que haviam recusado o chamado da Coalizão, preferindo se esconder em vez de lutar contra os inimigos.
A partir daquele ponto, qualquer orcade, gorgon ou naghar que fosse visto em público poderia ser preso ou morto pelo Império sem nenhuma necessidade de justifica legal. E ainda que estas raças não fossem bem vistas pela maioria da população, muitos temeram a Lei do Degredo e o que ela poderia causar.
Para agravar a situação, mais de uma década havia se passado e um Imperador ainda não havia sido eleito pela Colizão. E embora nenhuma guerra tivesse surgido nesse meio tempo, o ressentimento permanecia, especialmente entre os curupiras, que se sentiram traídos pela aliança dos Altos Elfos com os humanos.
A Guerra do Degredo
Em 1525, o clima se tornou um pouco mais ameno, com a realização das primeiras eleições imperiais. Ainda que esta tenha sido uma votação indireta, sem a participação popular, representantes das diversas raças do continente puderem eleger o general humano Emanoel Carvalho, que até então governava o reino de Belamata.
No mesmo ano, foi formado o Alto Conselho Imperial, um grupo político constituído pelos governantes de cada uma das Nove Nações Livres e mais cinco Altos Elfos, um de cada grande família. Os Conselheiros tinham poder equiparável ao do Imperador, ainda que a palavra final fosse dele.

E quando tudo parecia calmo, um novo decreto imperial abalou novamente as estruturas sociais. Em 1535, um grupo de líderes curupiras, que já estavam sob constante vigilância do Império desde as manifestações contra o Degredo, foi acusado de traição. Imediatamente, outros centenas de curupiras também foram presos, incluindo o grandes produtores rurais, que comandavam fazendas de grande destaque em Rio de Prata.
E em poucos dias, sem um julgamento público ou possibilidade de contestação, os curupiras foram submetidos à Lei do Degredo e condenados. Esse evento marcou o início de uma fase de repressão nunca antes vista, nem mesmo com os orcades.
Diariamente, centenas de curupiras eram torturados e mortos pelas ruas por tropas imperiais, espalhando um rastro de medo e desespero. Mas eles não aceitaram passivamente essa condenação e iniciaram uma série de revoltas que culminaram na chamada Guerra do Degredo.
Contando com alguns aliados humanos e kaiporas, os curupiras invadiram prisões e instituições militares, libertaram prisioneiros e roubaram armas do Império. Então iniciaram uma série de batalhas que se estenderam por meses e deixaram milhares de mortos.
O líder curupira Arantu é um dos nomes mais lembrados deste período. Suas tropas derrotaram os soldados imperiais em inúmeras batalhas, mas acabaram derrotados pelos magos élficos da Academia Arcana em 1537.
No ano seguinte, com quase todas as insurgências contidas, o Imperador promulgou a Lei Servitus, que permitia que os condenados ao Degredo fossem usados para trabalhos forçados pelo império e isso enfraqueceu ainda mais a resistência.
O Levante e o Momento Atual
Com o fim da guerra e a implementação da Lei Servitus, a Lei do Degredo passou a ser amplamente aceita pela população, especialmente entre os humanos que temiam novas revoltas. No entanto, essa aceitação veio acompanhada de uma crescente culpa, especialmente dos kaiporas.
Temendo também serem condenados ao Degredo, eles abandonaram a revolta e se submeteram ao Império. Como punição, o Imperador criou uma outra medida, chamada Labor Imperatus, que obrigava todos os kaiporas dotados da habilidade de usar a Molda a servirem ao governo por um período de oito anos.
E assim os séculos passaram e, aos poucos, os curupiras foram desaparecendo, ao ponto de serem quase esquecidos pela moradores de Terra Brasilis. Ainda que não estivessem completamente extintos, sua população havia sido reduzida a números alarmantes.
Porém, em 1989, um ataque no centro da cidade de São Paulo fez com que todos se lembrassem deles. Uma bomba explodiu em uma estação de metrô deixando mais de uma centena de mortos. No mesmo dia, uma vídeo foi enviado para os principais veículos de comunicação, exibindo o discurso incisivo de um curupira chamado Carlos Castro.
Castro falava em nome do Levante, um movimento de resistência composto majoritariamente por curupiras que tinha como objetivo a revogação da Lei do Degredo e o fim da influencia dos Altos Elfos. O Império reagiu com rapidez e brutalidade e isso também influenciou nos atos do Levante, que se tornou cada vez mais violento.

Com o passar do tempo, o Levante evoluiu para um movimento que buscava a completa destruição do Império e a morte de todos os elfos, considerados por eles como os verdadeiros opressores. Em 1995, o Imperador lançou uma campanha de repressão que resultou na morte de centenas de curupiras e na prisão de Carlos Castro, durante uma tentativa de ataque ao Palácio Imperial.
No dia seguinte, Castro foi enforcado e esquartejado em praça pública, com imagens sendo transmitidas para todo o continente. E ainda que isso tenha pausado as atividades do Levante, sabe-se que eles não cessaram por completo sua atuação. A tensão persiste, e a sombra da Guerra do Degredo continua a pairar sobre o Império Brasiliano, enquanto a resistência se reorganiza, esperando o momento ideal para ressurgir.